O Último Sobreiro propõe um cenário hipotético: o desaparecimento de uma espécie com singular valor ambiental e cultural, tanto das paisagens como do imaginário de um povo.
Embora a ideia de uma última árvore da espécie Quercus suber seja especulativa e contrafactual, as adversidades enfrentadas pelos sobreiros são inequívocas e urgentes: secas, desertificação, incêndios, pragas e doenças, a que se somam a “eucaliptização” e uma gestão florestal inadequada. Esses desafios são cada vez mais agravados pelas alterações climáticas, cuja gravidade continua sistematicamente subestimada. Nas serras do Algarve, o que é hipotético pode tornar-se real a um ritmo acelerado. Projeções apontam para um futuro em que as condições favoráveis ao sobreiro tenderão a deslocar-se gradualmente para o norte do país.
No espaço da exposição, poderão ser consultadas pastas com estudos académicos, reunidos ao longo da minha investigação, que documentam os desafios e as circunstâncias experienciadas pela espécie.
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No inverno de 2024 comecei a fotografar indivíduos desta espécie nas serras do Espinhaço de Cão, da Monchique e do Caldeirão assim como em vários municípios e aldeias da região. Nas minhas caminhadas — um tipo de fototrekking que segue os caminhos dos corticeiros, muitas vezes já cobertos há anos pela maquia — encontro numerosos exemplares de aparência raquítica, marcados por stresse hídrico, ataques de Fitóftora, carvão de entrecasco ou com irregularidades no descorticamento. São estas as árvores com as quais passo mais tempo.
O meu modo de fotografar é às vezes documental e, em outras ocasiões, mais desejavelmente, um modo de retrato, isto é, um retrato de árvore. Gosto de imaginar que, ao fotografar, o sobreiro se transforma num cliente com expectativas próprias para a sessão — um cliente que não busca uma aparência de beleza, pois a beleza é o seu estado natural. Por isso, opto antes por me focar nos traços e nas cicatrizes que anos de resiliência em solos nem sempre generosos lhe inscreveram.
Um artista plástico polaco, Witkacy, incluía na oferta do seu estúdio uma modalidade de “retrato psicológico”: um serviço que prometia captar o estado mental e/ou existencial do cliente, mesmo que isso implicasse distorcer a aparência até à desfiguração. Uma das regras da casa era simples: o retratado não podia queixar-se do resultado.
No caso das árvores, essa regra é supérflua. E para sustentar o meu “serviço” a sobreiros — tendo em conta que se veem regularmente privados dos seus recursos mais valiosos — recorro a representantes de outra espécie que, além de esculpirem os corpos destas árvores à mão e a machado, por vezes também se detêm a contemplar a sua aparência.
Luis Dawid Probala // artista intermédia formado na Academia de Belas-Artes de Cracóvia, na Polónia. Cresceu numa zona rural perto da fronteira germano-polaca, uma região que une a ferida da emigração económica à beleza do maior bloco florestal da Europa Central.
Os seus trabalhos investigam as intersecções entre o espaço físico (natural e construído) e o espaço sociocultural, bem como as relações entre agência humana e não-humana. Embora a abordagem seja sobretudo documental, os seus projetos envolvem também especulações sobre as causas
e futuras transformações deste tecido eco-social.
Desde 2023, vive e trabalha no Algarve, Portugal.
Se tiveres interesse em apoiar Último Sobreiro — o projeto documental e a criação de um fotolivro com mesmo título — considera a aquisição de uma impressão fotográfica.
As fotografias (19x29cm) são impressas em papel Epson Fine Art Cotton Smooth de alta gramagem, com moldura preta simples (30x40cm) e passepartout em preto ou branco. O preço unitário é 50 euros e inclui envio em Portugal Continental; para outras localizações, por favor contacta-me. Qualquer fotografia exibida ou publicada no insta do projeto @lastsobreiro está disponível!
Se estiveres interessado, entra em contacto comigo: